Ainda Estou Aqui é contido e devastador
- JORGE MARIN

- 23 de jan.
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de ago.
Ainda Estou Aqui não é um filme fácil de ser assistido, pela angústia que evoca e pelo desamparo que expõe. No entanto, é obrigatório, principalmente para os saudosistas de uma época que não viveram, e alardeiam ter sido “boa” para o Brasil.
Não foi. Desde o primeiro momento, em que a dona de casa Eunice (Fernanda Torres) nada nas águas calmas do mar da praia do Leblon, no Rio de Janeiro, um helicóptero militar, fazendo um voo rasante, escurece a paisagem até então tranquila, com o ruído do seu rotor, como uma metáfora.
O roteiro é baseado em uma história real, do livro homônimo do filme, escrito pelo filho de dona Eunice, Marcelo Rubens Paiva, e relata os últimos momentos do seu pai, o ex-deputado federal Rubens Beyrodt Paiva.
Pai bonachão (Selton Mello se parece fisicamente com ele), de classe média alta, Rubens tem uma vida tranquila, economicamente estável e muitos projetos imobiliários em andamento.
A casa está sempre festa, com muitos amigos, danças, bebidas, bons charutos e viagens internacionais. Dentro desse cenário feliz, Eunice intui que algo está acontecendo e teme cada vez que Rubens recebe ligações misteriosas.
A ameaça se manifesta
No dia 20 de janeiro de 1971, a ameaça se materializa na forma de um grupo de homens armados que chega do nada, invade a casa, manipula discos e livros do casal e “convida” Rubens a prestar depoimento no quartel do Exército.
A fotografia matizada e nervosa de Adrian Tejido se torna estática e sombria. Eunice e a filha Eliana (Luiza Kosovski), de 15 anos, são levadas ao DOI-CODI, onde ficamos literalmente no escuro, até que a protagonista retornar para casa, sem o marido.
A partir daí, Fernanda Torres se torna Maria Lucrécia Eunice Facciolla, uma das muitas mulheres que encararam a ditadura militar, e lideraram a luta contra as manipulações de informações para ocultar o destino dos prisioneiros, torturados e assassinados.
A luta de Eunice só tem um fechamento 25 anos depois, quando, em 1996, ela conseguiu um atestado de óbito e o reconhecimento da morte de seu marido pela ditadura.















Comentários