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O que não te contaram sobre a IA: ela é só uma tecnologia “normal”

  • Foto do escritor: JORGE MARIN
    JORGE MARIN
  • 15 de set.
  • 3 min de leitura
Estudo trata IA como tecnologia normal, não uma superinteligência, e se baseia em revoluções tecnológicas do passado para projetar implantação gradual. Imagem: Feepik
Estudo trata IA como tecnologia normal, não uma superinteligência, e se baseia em revoluções tecnológicas do passado para projetar implantação gradual. Imagem: Feepik

Já estamos bem grandinhos para saber que o hype tecnológico é praticamente um traço estrutural do capitalismo moderno. Em mercados saturados, a busca incessante por diferenciação é condição de sobrevivência em uma arena de venture capital ávida por narrativas disruptivas para justificar seus valuations.


Nesse sentido, o capitalismo não vende só produtos, mas também sonhos de futuro. Mas, será que, no caso da inteligência artificial, os atores de mercado não pesaram a mão? Os constantes padrões de versionamento apontam para uma inteligência artificial que surgirá, dizem as mídias, como uma espécie de buraco negro.


Dessa “singularidade”, que já está batendo às nossas portas, “nenhum setor escapará”, dizem influencers, gurus tech, políticos e até alguns acadêmicos em busca de proeminência. “A IA vai transformar TUDO”, alerta a comunidade AI Safety. “Adapte-se ou morra", afirmam os histéricos do FOMO (medo de perder algo).


Agora, um paper e projeto de livro, publicado em abril pelo Knight First Amendment Institute da Universidade de Columbia, nos EUA, traz uma brisa refrescante tanto às brumas de uma visão distópica de um cenário apocalíptico sem base empírica, como ao incenso doce e enjoativo da visão utópica.


Para os autores desse ensaio de reflexão pública, Arvind Narayanan e Sayash Kapoor, respectivamente professor de computação e doutorando da Universidade de Princeton, a IA é “uma tecnologia normal”, assim como outras “tecnologias transformadoras de uso geral, como eletricidade e internet”.


Inovação em IA é rápida, adoção é lenta


O estudo lembra que outra revolução tecnológica — a eletrificação industrial — demorou 40 anos para ser implantada. Imagem: karlyukav/Freepik
O estudo lembra que outra revolução tecnológica — a eletrificação industrial — demorou 40 anos para ser implantada. Imagem: karlyukav/Freepik

De acordo com o estudo, o grande problema do atual debate sobre IA é que ambos os lados a colocam na posição de agente autônomo, capaz de tomar decisões por conta própria e escolher, por si, os destinos da humanidade, atribuindo-lhe uma “autonomia plena” que a deixaria fora do controle humano.


Quando falam em “tecnologia normal”, Narayanan e Kapoor estão na verdade rejeitando esse determinismo tecnológico. A partir de transformações históricas, os pesquisadores destacam que são as instituições humanas — e não a “vontade da tecnologia” — que moldam os impactos sociais da IA.  


A afirmativa funciona, ao mesmo tempo, como uma descrição do presente (como a IA realmente é hoje), uma previsão de futuro (aposta sobre sua trajetória mais provável) e uma prescrição da forma como deveríamos tratá-la, aí incluídas orientações sobre políticas e comportamentos desejáveis.


“Não achamos que ver a IA como uma inteligência semelhante à humana seja atualmente preciso ou útil para entender seus impactos sociais”, afirmam os autores no estudo. Da mesma forma, essa perspectiva antropomórfica não fornece uma base para antecipar desenvolvimentos futuros ou orientar decisões.  


Mas talvez uma das contribuições mais importantes do estudo seja distinguir entre a criação e a adoção da IA. Embora 40% dos americanos já tenham experimentado IA generativa, eles a utilizam pouco — apenas algumas horas por mês, não por dia. Ou seja, as pessoas precisam reaprender como trabalhar.


Fazendo uma analogia com a Revolução Industrial, o estudo lembra que a eletricidade levou 40 anos para realmente transformar as fábricas, porque não era apenas uma questão de conectar uma tomada. Foi necessário redesenhar tudo: layout das máquinas, processos de trabalho, estrutura das empresas.


A grande lição da eletricidade e o futuro da IA


Na Revolução Industrial, os operários passaram a supervisionar as máquinas. Imagem: Reprodução/United Artists
Na Revolução Industrial, os operários passaram a supervisionar as máquinas. Imagem: Reprodução/United Artists

O paralelo entre a chegada da eletricidade na Revolução Industrial e a introdução da IA não é casual. A verdadeira transformação só ocorreu quando os empresários perceberam que poderiam colocar motores elétricos individuais em cada máquina.


Passado mais de um século, a IA pode estar passando pelo mesmo processo. Hoje, muitas empresas e pessoas estão simplesmente "plugando" IA em processos existentes, como usar ChatGPT para escrever emails ou automatizar tarefas pontuais. Mas isso significa encarecer essas tarefas.


A verdadeira transformação, assim como o uso efetivo da tecnologia só virá com um redesenho completo dos modelos de negócios, das profissões, das rotinas de trabalho e até mesmo das estruturas sociais. Ironicamente, a crença de que a IA irá criar formas totalmente novas de produzir, interagir e viver é o que alimenta o hype.


Assim como na Revolução Industrial os operários passaram a supervisionar máquinas, os empregos do futuro tenderão a focar em configurar, monitorar e supervisionar sistemas automatizados. Narayanan e Kapoor alertam que, sem supervisão humana, a IA pode cometer erros frequentes que poderiam inviabilizá-la comercialmente.


Apesar de uma certa complacência com os impactos na empregabilidade e algumas previsões excessivamente categóricas sobre a supremacia humana, o paper cumpre seu propósito: oferece uma perspectiva equilibrada entre dois cenários extremos e sugere políticas fundamentadas em lições históricas ao invés de especulação.

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