O Sétimo Selo, perfeição irritante
- JORGE MARIN

- 15 de dez. de 2018
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de ago.
Quando me perguntam por que iniciei Filmes Fodásticos, respondo que é para que pessoas se sintam tentadas a assistir filmes como O Sétimo Selo.
Sempre há essa curiosa crença por pessoas que simplesmente vão ao cinema de que o filme deve “mostrar” alguma coisa ou “ensinar” algo ou sei lá o quê. Como se a arte (o cinema é uma arte, lembram?) tivesse alguma função utilitária.
Ingmar Bergman chega a ser irritantemente perfeito na construção desse filme. Falam em trama psicológico, ou filme sobre a morte, mas a obra é de uma clareza quase psicótica sobre um assunto eterno: o medo, e, de maneira especial o medo de ficar só. Daí o desespero pela ausência de Deus. Antonius Block, o cavaleiro que percebe ter desperdiçado dez anos de sua vida nas Cruzadas reconhece: “Eu grito por ele (Deus) no escuro mas não tem ninguém lá”.
Curiosamente, a única figura fantástica presente é a Morte que, com seu manto negro, diz acompanhar o cavaleiro em toda a sua jornada. Block propõe à entidade um jogo de xadrez, não para retardar a sua partida mas para especular sobre Deus (sem nenhum sucesso). O jogo transcorre durante todo o filme até que o cavaleiro trapaceia, e num movimento aparentemente suicida, consegue salvar a vida de um casal de artistas de uma trupe: José, Maria e seu filhinho.
Ao lado do escudeiro Jons que, ao contrário dos auxiliares tradicionais, é letrado, filósofo e ateu, o cavaleiro retorna ao seu castelo através de um cenário de destruição em que se misturam peste negra, arquitetura românica, a queima de uma bruxa adolescente e a passagem de uma multidão de peregrinos praticantes da autoflagelação.
O final do filme não é igualmente palatável para moviegoers. Perguntar quem ganha o jogo de xadrez é irrelevante ao sabermos que a Morte nunca perde. E jamais perderá. O casal de artistas conduz sua carroça rumo ao horizonte, enquanto José, que é uma espécie de vidente, observa: “O rigoroso Senhor da Morte botou todos eles para dançar”. Maria duvida das visões do marido. E a criança sorri.















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