O Ano Passado em Marienbad: como assim?
- JORGE MARIN
- 12 de jan. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de fev. de 2022
Ano Passado em Marienbad é um filme diferente de tudo que se viu no cinema. Muitos o chamam de experiência cinematográfica, e não se sabe se é uma experiência do público na busca de novas linguagens ou uma experiência dos realizadores, o diretor Alain Resnais e o roteirista Alain Robbe-Grillet, para testar a resiliência dos espectadores.
Não que o filme seja tóxico. Ao contrário, Ano Passado é belíssimo, com uma cinematografia impecável, uma direção de arte perfeita e uma edição absolutamente revolucionária.
Mas o que torna a obra controversa é a sua recusa em fornecer qualquer tipo de gratificação à audiência. A começar pelos personagens que nem são nomeados. Temos protagonistas identificados no script pelas letras A, X e M. O que significam essas letras? Seriam iniciais? Não se sabe.
O enredo, a princípio simplista, vai se revelar mais tarde bem mais confuso do que parece. Num castelo barroco, que poderia também ser um hotel ou uma mansão, X é um homem que busca reatar um possível romance iniciado no ano anterior com A, uma bela mulher. Só que esta não se lembra do affair e nem mesmo de X, embora ele afirme que havia uma promessa de ambos fugirem juntos.
Para contrapor essa insistência, facilmente classificada como assédio nos dias atuais, temos M, homem enigmático, jogador inveterado, que tanto pode ser o marido de A, como algum tipo de protetor.
A ação (se assim pode ser chamada) é toda encenada, com muitos personagens permanecendo imóveis e outros se movendo, os poucos diálogos na maioria das vezes referem-se a acontecimentos fortuitos, totalmente irrelevantes, que, quando chegam a um impasse, são “conferidos” na biblioteca.
Cenas se repetem infinitamente, muitas vezes descritas em off, o cenário não confere com o que é narrado e os personagens se envolvem e se afastam. Parece acontecer uma tragédia, ou um acidente, mas, ao final, X relata à audiência que A aceitou ir embora com ele, embora não saibamos ao certo se se trata de realidade, ou pura ilusão. Como sói no cinema.

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