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Cafarnaum: legião de heróis descartáveis

  • Foto do escritor: JORGE MARIN
    JORGE MARIN
  • 23 de fev. de 2019
  • 2 min de leitura

Atualizado: 27 de fev. de 2022


Habitantes de um universo capitalista, é natural que, ao irmos ao cinema, nos encantemos com as maravilhas que revelam onde o capital está. Cafarnaum subverte essa lógica, mostrando, ou praticamente jogando na tela, onde não está o capital.

Pessoas que ficam à margem da distribuição de renda são comumente chamadas de “economicamente vulneráveis”. O filme não se detém em questões políticas ou morais, mas deixa claro que, se há vulnerabilidade no mundo, nenhuma é maior do que a vivida pelas crianças.

Zain é um garoto de aproximadamente 12 anos (nem os pais sabem quando ele nasceu) entrando algemado em um tribunal de Beirute. Imaginamos logo que se trata “naturalmente” de algum tipo de delinquência que “esse tipo de gente” comete. Porém, através das narrativas, descobrimos que não. Ele já está cumprindo pena há alguns anos por esfaquear um homem. O que se trata aqui é de uma ação, proposta pelo menino, contra seus pais por terem cometido o “crime” de colocá-lo no mundo.

O filme é uma sucessão de flashbacks que (não) explicam a história de Zain, mas traçam um perfil do universo infantil num lugar onde as crianças vêm ao mundo dentro de um discurso religioso que encobre uma maldade ímpar dos pais. Ignorantes, viciados e acomodados, eles não se importam nem um minuto em se preocupar com o destino dos filhos. Não sabem quando nasceram, onde estão, não os mandam para a escola e, se surge uma oportunidade de lucro, não se importam em “rifar” uma filha menor à luxúria onipresente dos predadores humanos.

Fugindo de casa, Zain recebe, talvez pela primeira vez na vida, um pouco de afeto e atenção de uma imigrante ilegal etíope Rahil e passa a cuidar do filho dela, o bebê Yonas, que, em virtude da prisão da mãe, se torna uma missão de vida para o menino.

Zain se transforma num herói: agiganta-se, é resiliente, inventa estratégias inacreditáveis. No entanto, os vilões somos muitos, uns porque caçam, outros porque não se importam, outros porque negam a realidade. A vitória é impossível, assim como essa legião mundial de heróis é descartável.

 
 
 

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