Assunto de Família: lágrimas aos olhos
- JORGE MARIN

- 9 de mar. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de ago.
O Assunto de Família não fica claro no título em português. No original em japonês, fica explícito que os membros da “família” Shibata são contumazes ladrões de loja.
No entanto, não é somente essa atividade que os une. A família apresenta fortes laços exceto os de sangue, pois é a necessidade que faz esse aglomerado de pessoas se apoiarem e funcionarem como uma família de verdade.
A matriarca Hatsue, a Vovó, vive de uma pequena pensão recebida do ex-marido desde o divórcio. Hoje morto, o marido continua recebendo homenagens póstumas. Na casa, minúscula, ainda vivem o Papai e a Mamãe, Osamu e Nobuyo, que descobriremos mais tarde terem se unido num episódio marcante e traumático. Ele é ajudante de pedreiro e ela trabalha numa lavanderia, recolhendo, aqui e ali, pequenas bugigangas esquecidas nos bolsos das roupas. Ainda vivem na casa um garoto de aproximadamente 10 anos de idade (que dorme num armário), e a jovem Aki, neta do ex-marido de Hatsue, que trabalha como “acompanhante” num clube, onde se exibe para clientes.
Na cena inicial, Osamu e o garoto Shota voltam para casa após um coreografado furto em um mercado (embora tenham esquecido o xampu), quando se deparam com uma menina de uns 5 anos deixada na varanda de sua casa, provavelmente por seus pais violentos e negligentes. Temendo que a garotinha Yuri morra de frio, eles a levam com eles para o seu lar, onde ela é, a princípio, rejeitada, e posteriormente “adotada” pela família.
Embora a garota passe a ser mais tarde procurada pela polícia, os Shibatas não se preocupam pois, em seu código particular de ética, entendem que só há sequestro se houver pedido de resgate. Da mesma forma, acreditam que não há roubo se os bens ainda não tiverem sido vendidos a outras pessoas, exceto se a loja que os vende estiver falindo.
Hirokazu Kore-eda constrói um filme minimalista e belo como se fosse uma grande cebola que fôssemos descascando aos poucos até descobrir, entre camadas ácidas, um núcleo que traz lágrimas aos olhos.















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