Corpo e Alma: sem espaço para sonhar
- JORGE MARIN

- 23 de mar. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de ago.
Corpo e Alma é um filme na contramão do cinema. Pouco se fala de sentimentos. A dimensão simbólica é substituída por uma concretude que não deixa espaço para sonhos, a não ser para um único, aquele que os protagonistas dividem.
Endre e Mária, um diretor financeiro de meia-idade e uma jovem inspetora de qualidade trabalham em um matadouro. Suas vidas solitárias podem ser vistas na intimidade de seus apartamentos através de contrastes: o interior escuro, iluminado apenas pela luz da TV do apartamento do homem, e uma luminosidade intensa no apartamento da moça. Ele, que tem uma paralisia no braço esquerdo, parece evitar a vida talvez para não repetir alguma dor. Ela não consegue qualquer tipo de contato social ou físico porque mergulhada num espectro autista.
No sonho que vivem juntos sem saber, descoberto ao acaso por uma cética psiquiatra, um cervo e uma corça caminham por uma floresta gelada em busca de alimento. O cenário é desolador e somente aquilo que os une também os mantém vivos. Longe dali, na vida real, uma multidão de bovinos bem alimentados espera pacientemente na fila do abate. Este é feito de maneira clara e reveladora: corpos são degolados e desmembrados num banho de sangue que escorre pelo chão.
Endre e Mária compartilham os seus sonhos como quem conta o episódio de um seriado de TV assistido no dia anterior. Ele é arredio a um envolvimento emocional porque não quer se iludir. Ela sequer sabe como fazê-lo. No entanto, conversando com seu terapeuta infantil, e reelaborando as cenas vividas com figurinhas de lego em seu apartamento, começa a aprender a exercer as suas habilidades sensórias.
A diretora Ildikó Enyedi consegue conduzir esse paradoxo de uma forma seca, como o são os personagens, porém calma como o olhar de um boi que deixa de ser trucidado porque soou a sirene do final do expediente.
No momento de maior dor, que é sentida também pela plateia, quando a soma de toda ansiedade é vivenciada como uma angústia inexorável, algo acontece e embaralha os opostos. Não é um final feliz como se conhece. O sonho se esvazia.
Corpo e Alma é um filme na contramão do cinema. Pouco se fala de sentimentos. A dimensão simbólica é substituída por uma concretude que não deixa espaço para sonhos, a não ser para um único, aquele que os protagonistas dividem.
Endre e Mária, um diretor financeiro de meia-idade e uma jovem inspetora de qualidade trabalham em um matadouro. Suas vidas solitárias podem ser vistas na intimidade de seus apartamentos através de contrastes: o interior escuro, iluminado apenas pela luz da TV do apartamento do homem, e uma luminosidade intensa no apartamento da moça. Ele, que tem uma paralisia no braço esquerdo, parece evitar a vida talvez para não repetir alguma dor. Ela não consegue qualquer tipo de contato social ou físico porque mergulhada num espectro autista.
No sonho que vivem juntos sem saber, descoberto ao acaso por uma cética psiquiatra, um cervo e uma corça caminham por uma floresta gelada em busca de alimento. O cenário é desolador e somente aquilo que os une também os mantém vivos. Longe dali, na vida real, uma multidão de bovinos bem alimentados espera pacientemente na fila do abate. Este é feito de maneira clara e reveladora: corpos são degolados e desmembrados num banho de sangue que escorre pelo chão.
Endre e Mária compartilham os seus sonhos como quem conta o episódio de um seriado de TV assistido no dia anterior. Ele é arredio a um envolvimento emocional porque não quer se iludir. Ela sequer sabe como fazê-lo. No entanto, conversando com seu terapeuta infantil, e reelaborando as cenas vividas com figurinhas de lego em seu apartamento, começa a aprender a exercer as suas habilidades sensórias.
A diretora Ildikó Enyedi consegue conduzir esse paradoxo de uma forma seca, como o são os personagens, porém calma como o olhar de um boi que deixa de ser trucidado porque soou a sirene do final do expediente.
No momento de maior dor, que é sentida também pela plateia, quando a soma de toda ansiedade é vivenciada como uma angústia inexorável, algo acontece e embaralha os opostos. Não é um final feliz como se conhece. O sonho se esvazia.















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