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Lucky é a beleza do nada

  • Foto do escritor: JORGE MARIN
    JORGE MARIN
  • 13 de abr. de 2019
  • 2 min de leitura

Lucky, por retratar a vida de um veterano da Segunda Guerra Mundial, poderia ter a morte como motivo principal. No entanto, o que se vê nos 88 minutos é a vida. São os amigos, paisagens, pensamentos e manias desse velho ranzinza que não faz o menor esforço para agradar ninguém nem para cuidar de si próprio.

Morador de uma desértica cidade no sul da Califórnia, Lucky, numa memorável interpretação de Harry Dean Stanton, leva uma vida metódica e frugal. Vive sozinho e acorda cedo, embora não saibamos a hora porque ele não acerta o seu relógio-despertador. Faz cinco exercícios de yoga e toma um copo de leite gelado, único conteúdo de sua geladeira e fuma o tempo todo.

A rotina, que inclui uma ida à cafeteria para tomar café com leite e fazer palavras cruzadas, é quebrada no dia em que Lucky tem um desmaio. Esse fato, ao qual o médico local não dá muita importância, muda inteiramente a direção dos fatos, de mera crônica de costumes para uma reflexão sobre solidão e impermanência.

No entanto, isso é feito de maneira leve. Cenas memoráveis acontecem: preocupada com o idoso, a garçonete Loretta vai à casa dele, onde acabam fumando maconha e assistindo a um show de Liberace na TV. Numa conversa com outro veterano de guerra, interpretado com extrema delicadeza por Tom Skerritt, Lucky, que era cozinheiro num navio de munições, ouve, emocionado, a história de uma garotinha japonesa e sua forma de encarar a morte.

A partir desse episódio, Lucky resolve acertar o seu relógio-despertador. Uma música cantada com mariachis numa festa infantil serve para lembrar que o protagonista não se casou nem teve filhos.

Naquela noite, no bar, após ouvir pela enésima vez a reclamação de seu amigo Howard sobre a fuga de seu jabuti Presidente Roosevelt, desafia a proprietária Elaine, acendendo um cigarro. Antes faz uma reflexão sobre a verdade da vida, afirmando que tudo e todos, inclusive os cigarros, irão desaparecer na escuridão e no vazio.

Na cena final, Lucky sorri para o seu destino sem notar que o jabuti vem voltando sorrateiro para casa.

 
 
 

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