Três anúncios de um crime: ódio e dor legítimos
- JORGE MARIN
- 8 de jun. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de fev. de 2022
Em Três anúncios para um crime, Martin McDonagh atinge situações-limite dentro de um universo emocional que se pretende muitas vezes previsível. A verdade é que comportamentos controlados ou socialmente corretos existem apenas na imaginação ou em roteiros de filmes anteriores à década de 1970.
O ranço, no entanto, permanece e é comum nos surpreendermos com o ódio existente no interior da protagonista Mildred Hayes, uma mãe de uma cidadezinha do interior destroçada emocionalmente pela morte brutal da filha Angela, estuprada ao morrer.
Frances McDormand dá um tom humano, ou demasiadamente humano, para uma mulher que resolve atirar toda a dor que sente internamente para o ambiente externo: aluga três cartazes publicitários para cobrar do xerife Willoughby providências para o inquérito do assassinato, que ela julga “esfriado” sete meses depois.
O xerife, vivido por Woody Harrelson de uma forma a que não estamos acostumados, é uma pessoa compassiva, vivendo ele próprio o drama de um câncer que irá matá-lo em breve. Dessa forma, a antítese da sra. Hayes é representada pelo policial Dixon, beberrão, violento, capaz de jogar pessoas pela janela e ainda ser considerado frouxo por sua mãe preconceituosa.
Dentro desse cenário de dores e violência, há raros momentos de ternura, como no momento em que, discutindo com Mildred, Willoughby tosse sangue e é chamado por ela de “babe”. Em outra cena, Mildred recebe a visita inesperada de um filhote de cervo e brinca com o fato de aquilo ser uma tentativa de simular uma reencarnação que ela sabe não existir. Porém, chora.
O xerife decide tirar a própria vida, o que acirra os ânimos da pequena comunidade de Ebbing, onde, como ocorre na maioria das cidades do interior,
ódio e dor parecem ser palavrões.
No final do filme, o que se afigurava impossível acontece e os antagonistas Dixon e Mildred unem forças para eliminar um possível, embora improvável, suspeito. Da própria incerteza, mas principalmente da certeza de uma violação da lei que Hayes presumia desconhecida, surge o primeiro riso de Mildred.

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