As regras do jogo: afetos à flor da pele
- JORGE MARIN
- 15 de jun. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de fev. de 2022
Um dos melhores filmes já produzidos, A Regra do Jogo, de 1939, começa com uma recepção ao piloto Andre Jurieu que chega de uma solitária travessia do Atlântico apenas dez anos depois do voo do famoso Charles Lindbergh. Embora recepcionado por uma multidão e autoridades, o então herói nacional choraminga na sua entrevista para o rádio porque a sua amada não veio recebê-lo no aeroporto.
A amada, por ele mas não dele, é Christine, esposa do marquês Robert de Las Chesnaye, milionário e apaixonado por pequenos brinquedos mecânicos. Como ela e Jurieu passaram muitos momentos juntos, o piloto acredita que a coisa certa a fazer, pelas regras do jogo, é comunicarem ao marido que estão juntos. O marquês, por sua vez, está se separando de sua amante de longa data, Genevieve, porque, da mesma forma, quer seguir as regras do jogo com a esposa.
De Paris, a ação é transferida para a estação de caça de Robert na La Coliniére, onde se hospedam todos: maridos, esposas, amantes, pretendentes e até um caçador ilegal, Marceau, que é contratado pelo marquês e logo se torna íntimo da camareira da marquesa, Lisette, esposa de outro personagem que também é seguidor das regras, o guarda-caça Schumacher que mais parece um comande militar alemão.
Com tantos afetos à flor da pele, seria inevitável que cenas farsescas ocorressem. Em qualquer filme, o diretor coloca um personagem que provoca encontros e desencontros. Neste filme, o próprio diretor é o personagem que transita entre todos os romances e diálogos: ele é o bonachão Octave, amigo do piloto, da esposa, do marquês, da camareira, da amante e, finalmente, revela-se também apaixonado por Christine.
Quando acontece um assassinato (ou acidente?) no final do filme, a plateia praticamente não se assusta, pois numa cena anterior assistiu a um impressionante massacre. Todos os convidados caminham alegremente pela floresta, cada um armado com uma carabina, e matam dezenas de coelhos e faisões. Porém, o máximo que a morte de um ser humano causa é um alerta para que todos os convidados voltem para dentro do castelo para não contraírem alguma doença.

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