Coringa não é uma história em quadrinhos
- JORGE MARIN
- 5 de out. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de fev. de 2022
Coringa não é um filme sobre histórias em quadrinhos, como aqueles com os quais nos acostumamos no Universo Marvel. Embora lançado com a pretensão de contar a história da origem do arqui-inimigo do Batman, o que se vê aqui é uma história pesada, sombria e dramática sobre doença mental.
No início do filme, Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) ri em sua visita à assistente social (onde consegue sua medicação). O riso de Arthur mais se parece com uma crise de choro dolorosa e incontrolável. Sai à rua e o que encontra é um cenário imundo de uma Gotham City paralisada por uma greve de lixeiros. Há quem reconheça uma semelhança com a Nova Iorque de Motorista de Táxi, de Scorcese.
Não por acaso, outro personagem-chave é o humorista e apresentador Murray Franklin, vivido por Robert de Niro, numa posição inversa à vivida por ele em outro filme de Scorcese – O Rei da Comédia. Em Coringa, De Niro é o apresentador fanfarrão, que é admirado e imitado por Arthur que passa as noites assistindo ao show e fantasiando uma participação, em companhia de sua mãe doente, Penny.
Arthur trabalha como um palhaço profissional, animando festas de aniversário e cantando para crianças doentes em hospitais. De hábitos reservados e alheio a contatos sociais, acaba sendo vítima de molestadores, espancado na rua, ignorado em suas performances e ridicularizado por Murray em um vídeo de uma apresentação stand-up.
Um colega de trabalho dá a Arthur uma arma para autoproteção, e o acesso a esse artefato parece ser o caminho através do qual uma mente atormentada e dividida pôde encontrar caminho para se expressar. Ele dança em frente à TV com seu torso magro e ossudo com o 38 nas mãos e nessa hora já não é mais Fleck: uma entidade sinistra o habita, numa transição quase imperceptível.
Quando as coisas começam a sair de controle, Arthur é convidado a participar do show de Murray e lá pede para ser chamado de Coringa, nome da carta de baralho com um bobo da corte, arquétipo apropriado a uma vítima da sociedade e de políticos poderosos, como Thomas Wayne (pai do futuro Batman) que chama ativistas de “palhaços”.

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