Argentina, 1985 é uma nação voltando dramaticamente à democracia
- JORGE MARIN
- 15 de out. de 2023
- 2 min de leitura
Como se fosse um documentário de época, Argentina, 1985 traz uma reconstituição do cenário do país em uma fotografia na proporção de aspecto de 1,66:1, com a qual o experiente cinematografista Javier Juliá consegue imprimir uma sensação claustrofóbica (não por acaso) nas cenas internas. Nas externas, a iluminação natural e indireta imprime uma atmosfera realista.
Lançada em um período onde vários grupos de orientação fascista têm assumido posições de poder, a obra de Santiago Mitre consegue retratar a situação asfixiante da população da Argentina, recém-saída de uma ditadura de sete anos. O retorno à normalidade democrática era ainda ameaçada pelo medo de uma ala resistente do exército.
Divisor de águas desse momento sombrio da história argentina, o julgamento feito por uma corte civil tem difícil missão: processar os chefes militares que governavam o país durante os chamados anos de terror, em que pessoas desapareciam de suas casas, para serem torturadas ou mortas.
Para desempenhar o papel de acusador, é escolhido o promotor-chefe Carlos Enrique Strassera, vivido no filme por Ricardo Darín. Nem um pouco heroico, o funcionário público vive em um apartamento modesto com sua esposa Silvia (Alejandra Flechner, fantástica) e os filhos Veronica (Gina Mastronicola) e Javier (Santiago Armas Estevaren).
Na formação de sua equipe, Strassera logo percebe que a maioria dos advogados existentes se enquadra nas categorias, “morto”, “fascista” ou “superfascista”. Após nomear como co-conselheiro o jovem idealista Luis Moreno Ocampo (interpretado pelo ótimo Peter Lanzani), o acusador acaba optando por um verdadeiro “exército de Brancaleone” formado por jovens advogados recém-formados.
Após esse prelúdio, que mescla cenas familiares e dos bastidores da formação da equipe, o filme atinge o seu ponto dramático durante o julgamento, quando traz à tona os relatos avassaladores de sequestro, tortura e assassinato. Um dos mais impactantes — feito por Adriana Calvo de Laborde (Laura Paredes) — conta como ela foi torturada durante seu trabalho de parto.

Esse filme é demais!