História de um Casamento: aquilo do qual nunca se fala
- JORGE MARIN
- 31 de ago. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de fev. de 2022
O fio condutor de História de um Casamento parece ser o divórcio, mas o que o diretor Noah Baumbach revela é um vislumbre da vida real em uma relação entre duas pessoas. Aquilo do qual nunca se fala, sobre afetos opostos e indesejáveis que vêm à tona, e o que se vê são duas pessoas que verdadeiramente se amam tomando atitudes impensáveis e desleais entre si.
No início do filme, é possível conhecer as qualidades dos dois protagonistas através de uma descrição que cada um fez sobre o outro a pedido de um mediador. Descobrimos que Nicole (Scarlett Johansson) é uma mãe amorosa, ótima ouvinte, preocupada com a mãe e a irmã, e nunca fecha a porta dos armários. Charlie (Adam Driver), por sua vez, é um talentoso e criativo diretor de teatro, extremamente competitivo e devora suas refeições com rapidez.
Entrar na intimidade do casal, que já passou por crises anteriores, dificulta a vida do espectador acostumado a tomar partido de um dos lados. É lógico que surgem alguns podres do casal. Charlie já traiu Nicole uma vez e raramente leva em conta as necessidades pessoais dela. Nicole vai a Los Angeles filmar o piloto de uma série de TV e meio que sequestra o filho do casal para morar definitivamente lá, fato que Charlie só toma conhecimento quando é surpreendido com os papéis do divórcio.
As atuações reforçam essa ideia de documentário: tanto Adam Driver quanto Scarlett Johansson são absolutamente convincentes em suas performances. Cada um recebe do diretor um monólogo: Charlie no bar e Nicole com a horrível Nora Fanshaw (Laura Dern, fantástica!). Além disso, há um diálogo, ou melhor, uma discussão impensável, aquele famoso round final em que se fala o que não deve e ouve-se o que assusta.
Raramente o filme soa convencional ou excessivo, como nos números musicais que talvez funcionassem melhor no teatro. Mas em geral é um filme maravilhoso, uma obra de ficção que consegue arranhar a vida real, e nos faz ficar com aquela sensação de que o casal deveria ficar junto, mesmo sabendo que não iria funcionar. Ou talvez funcionasse.

Comments