Era uma vez... em um filme de Tarantino
- JORGE MARIN
- 30 de nov. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de fev. de 2022
Era uma vez... em Hollywood foi dirigido por Quentin Tarantino, mas não é um “filme de Tarantino”. É melhor do que isso: ótima comédia, grandes atuações, e uma revisão da Hollywood do final da década de 1960 que vale como uma declaração de amor.
Isso não significa que Era uma vez seja conformista, ou apenas nostálgico. Ele também é tudo isso, mas traz uma releitura ampla da realidade, que ele chama de conto de fadas, mas poderíamos chamar de subversão.
Isso pode ser visto claramente na relação entre os dois protagonistas masculinos, um ícone decadente do faroeste de TV, Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e seu dublê, Cliff Booth (Brad Pitt). O que eles têm em comum é uma relação amorosa incondicional, do tipo existente apenas nos contos de fada, ou como dito no filme, Cliff é “mais do que um irmão, mas menos do que uma esposa”.
O filme se passa em 1969 e, além dos protagonistas masculinos, traz de volta à vida a atriz Sharon Tate (Margot Robbie), sob uma visão bem mais romântica que a Sharon real, vitimada por uma tragédia. Aqui, ela se encanta com Los Angeles, vai ao cinema assistir a um filme no qual fez uma aparição.
A história segue o seu próprio ritmo, o que talvez possa explicar os 161 minutos de duração. Várias histórias paralelas se entrecruzam, mas nunca chegam a ser o que esperamos delas, com cenas de suspense se desfazendo sem que nada aconteça.
Na verdade, não é um filme sobre histórias de atores. É um filme sobre fazer filmes, e atuar em filmes. Dalton é convencido por seu agente, Marvin Schwarzs (Al Pacino), a deixar a TV e ir para Roma fazer westerns spaghetti. Booth se divide entre suas tarefas na mansão do amigo-patrão-irmão e o trailer, onde mora com sua cadela pit bull Brandy.
Quando enfim a chamada “família Manson” entra em cena para executar seus crimes, não se trata de um grande momento, mas de uma cena a mais, que segue sua própria lógica, e aqui sim, uma lógica tarantinesca.
No final, os que morreram na vida real recebem Rick Dalton para um drink, e conversam animadamente. Como quem sai do cinema.

Comments