Um Homem com uma Câmera: experiência visual incomparável
- JORGE MARIN
- 7 de set. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 20 de fev. de 2022
Um Homem com uma Câmera é uma das experiências visuais mais revolucionárias já realizadas sob a forma de filme. O diretor Dziga Vertof buscou desafiar vários modelos em voga no ano de 1929.
Um desses parâmetros é a duração média dos planos (ASL em inglês), que mede a duração total de um filme dividida pelo número de planos. Os filmes mudos da época tinham uma ASL de 11,2 segundos, e a esposa do diretor, Yelizaveta Svilova, conseguiu a proeza de editar Um Homem com uma Câmera em 2,3 segundos, uma marca semelhante aos filmes modernos.
Vertof muda também a forma teatral com a qual os filmes eram produzidos, e aposta numa linguagem alternativa, fazendo questão de afirmar, na abertura do filme, que ele não possuía cenário nem intertítulos e nem atores. Apenas uma sucessão de imagens e uma trilha sonora com andamento rápido.
A proposta do filme é retratar as 24 horas de um único dia em uma cidade da Rússia. Na verdade, esse único dia foi filmado em quatro anos e mostrou imagens de três cidades: Moscou, Kiev e Odessa. O trabalho resultou em cerca de 1775 planos distintos registrados pela cinematografia de Mikhail Kaufman, irmão do diretor, talvez o único personagem.
No início do filme, uma divisão de imagem apresenta a ilusão de uma filmadora gigante com o cinegrafista e sua máquina de filmar com tripé em seu topo. A cena muda para um cinema onde as cadeiras cujos assentos, até então com levantados, começam a baixar automaticamente para a entrada do público que vai assistir ao filme, este filme.
O que se segue é um belíssimo exercício de metalinguagem: à medida que as imagens sobre diversos assuntos são mostradas, também é mostrado o cinegrafista filmando, ora em cima de um caminhão ora nas profundezas de uma mina de carvão e até mesmo sendo quase espremido por dois bondes que se cruzam.
O final é um crescendo onde as etapas de edição do filme vão sendo mostradas junto com novas imagens em cortes que “saltam”, a movimentação se acelera, a música se torna frenética até o fechamento do obturador junto com um olho humano.

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