Nomadland são os rejeitados da meritocracia hipócrita
- JORGE MARIN

- 17 de abr. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de ago.
Nomadland, filme de Chloé Zhao baseado no livro de mesmo nome escrito pela jornalista norte-americana Jessica Bruder, se desenrola como se fosse um documentário, e levanta algumas questões intrigantes e atuais: existe vida depois do CEP cancelado? E a mais importante: é possível viver em um sistema capitalista sem ter propriedade?
Fern, a protagonista da história, vivida com rara sensibilidade por Frances McDormand, contraria todas as expectativas e convenções. Tendo a sua vida “cancelada” após o fim da cidade de Empire, no estado de Nevada (que existia em função de uma mina de gesso que fechou), a viúva guarda seus pertences em um depósito, e decide sair pelo mundo, em sua van, a Vanguard.
Fern personaliza a van com uma cama, uma pequena cozinha e um espaço de armazenamento com as lembranças de sua “outra vida”, como a coleção de pratos do seu pai. Rejeitando o rótulo de “sem teto”, mas se reconhecendo sem casa, Fern e Vanguard partem para a estrada. Logo, descobrem que não estão sós, e se juntam a uma gigantesca tribo que vagueia pelo país.
Frutos de uma nova ordem capitalista decadente, são os rejeitados de uma meritocracia capenga: idosos ou quase, classe mais ou menos média e outros que, de seu, só têm seus carros. São desempregados, aposentados com salários ridículos, descasados e vítimas da bolha imobiliária. Vidas hipotecadas a um ideal cada dia mais distante.
Trabalhando exaustivas jornadas em armazéns da Amazon em troca do dinheiro do estacionamento e uns trocados, Fern só observa e ouve as pessoas, a maioria delas contando casos reais de suas vidas. Aqui estão Linda May, a melhor amiga Fern; Swankie, a canoísta e observadora de pássaros em seus derradeiros momentos de vida; e o misto de profeta e mentor espiritual Bob Wells.
Em alguma estrada, David Strathairn surge na pele de Dave, uma pessoa pacífica e amorosa, que tenta conquistar o afeto de Fern. Ela também gosta do colega de jornada, mas, de alguma forma, sabe que essa história de dormir no conforto de uma cama já é algo que não lhe diz respeito. No final, ela retorna a Empire, que não há mais.















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