Retrato de uma Jovem em Chamas: desejo e arte
- JORGE MARIN
- 11 de jan. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de fev. de 2022
Retrato de uma Jovem em Chamas se inclui naquela categoria de filmes que extrapolam roteiro e atuação de atores, e se consolida como uma obra de arte. A cinematografia primorosa de Clair Mathon antecipa cenas através de rascunhos em texturas de papel e tela.
Quem se apressa em tirar conclusões sobre o enredo, deve ficar atento às palavras de Marianne (Noémie Merlant) para suas alunas em uma aula de pintura de retratos: “Não se apressem ao olhar para mim”. Uma aluna traz para o ambiente uma tela que estava no estoque: é a história que vamos assistir.
Em algum momento do século XVIII, Marianne atravessa uma baía num bote conduzido por remadores em direção à costa da Bretanha. Seus materiais caem no mar, os homens não se movem, e ela pula na água para recuperá-los. Ela chega no seu destino completamente encharcada e cansada.
A missão da artista é, em uma semana, pintar um retrato de Héloïse (Adèle Haenel), segunda filha de um rico mercador. A pintura deverá ser remetida à apreciação de um pretendente em Milão que poderá, se gostar, casar com a moça. A irmã mais velha de Héloïse parece não ter concordado com esse destino e preferiu se matar.
A estratégia da irmã mais jovem é diferente: ela simplesmente se recusa a posar para o retrato. Por isso, Marianne deverá fazer a pintura de memória, apresentando-se como uma acompanhante, auxiliada pela empregada Sophie (Luàna Bajrami).
As duas jovens começam a caminhar juntas e a trocar experiências. Marianne revela ao final da semana ser uma pintora e mostra o quadro a Héloïse que o rejeita por considera-lo sem vida. A pintora se sente extremamente frustrada e acaba por queimar a pintura e pedir mais uma semana para completar o trabalho.
O que se segue é um romance. Marianne explora toda a intimidade de Héloïse e esta se entrega com uma volúpia calma. Não há espaço para convenções masculinas. As amantes sabem que não podem mudar seus destinos, mas descobrem que há espaço para o desejo. E para a arte.

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