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  • Clube da Luta é clara profecia

    Clube da Luta é um filme visceral que não pode ser analisado literalmente, como se a violência que ali se vê seja apenas a de um bando de marmanjos se esmurrando em um porão. Há, por trás do concretismo primário, uma visão crítica do consumismo como obstáculo à liberdade das pessoas. Sem cair no proselitismo, o enredo começa com Jack (Edward Norton), chamado de Narrador – por motivos que serão vistos no final – em uma situação desconfortável. Ameaçado de morte e atordoado por um cataclismo iminente, ele começa a contar como chegou naquela situação. Funcionário de uma fabricante de veículos, e viajando pelo país para registrar falhas em equipamentos de segurança, Jack tem um sério problema de insônia e, ao procurar um médico, este lhe diz para parar de choramingar e ir à reunião de um grupo de apoio para pacientes de câncer testicular para ver o que é o verdadeiro sofrimento. Jack faz isso e, ao interagir com esses homens castrados, consegue finalmente dormir. Viciado em grupos de apoio, o Narrador conhece Marla Singer ( Helena Bonham Carter), que também frequenta essas reuniões, porém como uma espécie de voyeur. Os dois se estranham, mas aos poucos estabelecem uma comunicação que será importante no desenrolar da história. Mas o grande salto do enredo é uma determinada noite em que Jack retorna de uma viagem e encontra seu organizado apartamento destruído por um incêndio. Sem saber por que, ele busca abrigo na casa de Tyler Durden (Brad Pitt), um vendedor de sabonete que acabara de conhecer no avião. Durden é uma personalidade totalmente antagônica à de Jack, e o encanta com conceitos libertários. Mas também o surpreende com um pedido inusitado: “Me bata o mais forte que puder!”. Os dois acabam lutando, pessoas se aproximam, e aderem ao ritual de machos se espancando. É o início do Clube da Luta, uma organização que conduzirá a violência a níveis extremos. Não há como não se lembrar de filmes como Laranja Mecânica , mas aqui há uma sucessão de truques e jogos de metalinguagem que tornam Clube da Luta um filme intrigante, que, além de romper com a chamada quarta parede, traz uma surpresa não percebida, mas presente em toda a narrativa desde o início. A crítica de Clube da Luta , feita 20 anos depois, mostra o caráter profético do filme ao mostrar, em seu final, a explosão de duas torres gêmeas em Los Angeles (Century Plaza Towers), como aconteceria dois anos depois, em Nova York, no maior atentado terrorista já realizado.

  • O Farol é um pesadelo

    O Farol é um pesadelo. Filme de terror pode ser, muitas vezes, o resultado de uma vida a dois em isolamento. O diretor Robert Eggers captura essa imagem e a leva às últimas consequências em uma bela reconstrução em preto e branco do cenário desolado de um farol em uma ilha de difícil acesso no meio do oceano na Nova Inglaterra. Utilizando um formato de tela na proporção 1,19:1, como a nos lembrar de algum filme expressionista alemão dos anos 1930, o filme mostra a chegada de dois guardiões ao farol para substituir a antiga guarnição: o veterano Thomas Wake (Willem Dafoe) e o novato Ephraim Winslow (Robert Pattinson). Wake age como se fosse o dono do local, guarda a chave da entrada do topo da torre e só ele cuida da luz. A Winslow, são reservadas as tarefas menos nobres, como a alimentação da fornalha e esvaziar os penicos. O faroleiro veterano tem um discurso assustador, contando ao novato que seu antigo auxiliar enlouqueceu. Logo percebemos essa “lógica” da loucura entrar na narrativa: as fantasias eróticas de Winslow se materializam na forma de uma sereia com sua anatomia detalhadamente exibida, mas também as visões aterrorizantes vão tomando conta da narrativa, ao ponto de não sabermos se o que está sendo exibido é real ou produto de alucinação. Completamente alterados, os dois personagens mergulham numa intimidade extrema onde dançam, cantam e quase se beijam, mas quase se matam. Em um alojamento completamente tomado pela água, eles chafurdam na lama, e, com a extensão da história (o filme tem 1h 50), sentimo-nos desconfortáveis com a crueza das imagens. Os últimos quinze minutos são tomados por imagens perturbadoras, que lembram às vezes cenas de Buñuel. Nessa hora, o intimismo, muito semelhante a uma peça teatral, se abre para uma estética icônica, onde imagens arquetípicas com inspiração mitológica conduzem a um fim trágico ao qual o herói que ousou roubar o fogo dos deuses foi submetido.

  • Retrato de uma Jovem em Chamas: desejo e arte

    Retrato de uma Jovem em Chamas se inclui naquela categoria de filmes que extrapolam roteiro e atuação de atores, e se consolida como uma obra de arte. A cinematografia primorosa de Clair Mathon antecipa cenas através de rascunhos em texturas de papel e tela. Quem se apressa em tirar conclusões sobre o enredo, deve ficar atento às palavras de Marianne (Noémie Merlant) para suas alunas em uma aula de pintura de retratos: “Não se apressem ao olhar para mim”. Uma aluna traz para o ambiente uma tela que estava no estoque: é a história que vamos assistir. Em algum momento do século XVIII, Marianne atravessa uma baía num bote conduzido por remadores em direção à costa da Bretanha. Seus materiais caem no mar, os homens não se movem, e ela pula na água para recuperá-los. Ela chega no seu destino completamente encharcada e cansada. A missão da artista é, em uma semana, pintar um retrato de Héloïse (Adèle Haenel), segunda filha de um rico mercador. A pintura deverá ser remetida à apreciação de um pretendente em Milão que poderá, se gostar, casar com a moça. A irmã mais velha de Héloïse parece não ter concordado com esse destino e preferiu se matar. A estratégia da irmã mais jovem é diferente: ela simplesmente se recusa a posar para o retrato. Por isso, Marianne deverá fazer a pintura de memória, apresentando-se como uma acompanhante, auxiliada pela empregada Sophie (Luàna Bajrami). As duas jovens começam a caminhar juntas e a trocar experiências. Marianne revela ao final da semana ser uma pintora e mostra o quadro a Héloïse que o rejeita por considera-lo sem vida. A pintora se sente extremamente frustrada e acaba por queimar a pintura e pedir mais uma semana para completar o trabalho. O que se segue é um romance. Marianne explora toda a intimidade de Héloïse e esta se entrega com uma volúpia calma. Não há espaço para convenções masculinas. As amantes sabem que não podem mudar seus destinos, mas descobrem que há espaço para o desejo. E para a arte. #thomas #review

  • 1917: dever, horror e desespero

    1917 veio, de certa maneira, suprir uma carência de filmes sobre a Primeira Guerra Mundial, pois a última grande produção sobre o conflito foi feita em 1930 ( Nada de Novo no Front , de Lewis Milestone, filmado 12 anos depois do fim da guerra). Portanto, a obra do diretor de roteirista Sam Mendes traz à tona um relato fiel, como se fosse um documentário, sobre um marco divisório sobre a forma de nações se enfrentarem. Longe do aparato tecnológico das produções modernas, 1917 ainda guarda semelhanças com as guerras bárbaras. A cinematografia de Roger Deakins em forma de um plano-sequência único coloca o espectador dentro da cena, acompanhando a ação a somente alguns passos o que tem um efeito angustiante e por vezes de asfixia. A sensação de andar dentro das trincheiras é incomparável. Num cenário escatológico e desolado, uma história de obediência, dedicação e perseverança é contada. No dia 16 de abril de 1917, dois batalhões britânicos estão prestes a caírem numa armadilha que pode resultar na morte de 1600 soldados. A aviação aliada (que ainda não havia adaptado armas a bordo) fez um reconhecimento aéreo mostrando que os alemães simularam uma retirada para emboscar os ingleses. Sem ter como comunicar sobre a armadilha, o Comando Aliado decide enviar dois cabos à chamada Terra de Ninguém. Um deles, Blake (Dean-Charles Chapman), é irmão de um tenente que se encontra num dos batalhões ameaçados. O outro, Schofield (George MacKay) é escolhido por puro acaso. A aventura da dupla ocorre em tempo real, primeiro entre as trincheiras amigas, até atingir os perigos desconhecidos da Terra de Ninguém. Prosseguem através de um bunker subterrâneo alemão abandonado. Acidentes acontecem entre um cenário de horror e destruição. Como a nos lembrar que este é um filme de guerra, e não apenas de horror, ocorrem tiroteios, perseguições e mortes estúpidas. Aos poucos, o cansaço vai dando lugar ao desespero, até que nós, lado a lado com os personagens, começamos a duvidar do sucesso da missão. #thomas #review

  • O Poço é uma parábola violenta e óbvia

    O Poço é uma parábola violenta e muito óbvia sobre o sistema capitalista. No entanto, a forma como é apresentada é tanto mais assustadora quanto mais tentamos nos convencer da bondade humana. E, mesmo quando esperamos o pior, o que vem a seguir consegue superar o já visto, em crueza e desespero. A cenografia, minimalista, se assemelha a um palco de teatro. A maior parte das cenas ocorre em uma estrutura chamada de O Buraco, onde celas para duas pessoas têm uma grande abertura central pela qual desce diariamente uma plataforma com uma mesa com alimentos para o dia inteiro. No nível zero, há uma cozinha onde diariamente é preparado um banquete com comidas sofisticadas, iguarias, sobremesas e bebidas. Esse festim desce intacto até o nível 1 e depois sucessivamente, em breves paradas, aos níveis inferiores. Se cada dupla consumir uma pequena porção do que é servido, é possível que haja comida para todos. Logicamente isso nunca acontece. Egoístas, não apenas os ocupantes das celas superiores devoram avidamente mais do que aguentam digerir, como emporcalham os restos de comida que não conseguem comer. Alguns justificam seus atos lembrando que, depois de um mês, ocorre um rodízio e eles podem ser transferidos para celas abaixo. O filme tem início com Goreng (Ivan Massagué) acordando no nível 48 ao lado do velho Trimagasi (Zorion Eguileor). Ele traz o único objeto a que cada um tem direito: o livro Dom Quixote de Cervantes. Seu colega de cela tem uma faca que se amola sozinha. A odisseia de Goreng tem, literalmente, muitos altos e baixos, até encontrar Baharat (Emilio Buale), um negro que carrega uma corda com a qual pretende chegar ao nível zero, sem se dar conta que, para isso, irá precisar da ajuda das pessoas de cima. Juntos, pretendem enviar uma mensagem à Administração que, como dito por um sábio, “não tem consciência” do que ocorre nos níveis inferiores. Pouco a pouco, os dois paladinos irão descobrir que praticar o bem, o altruísmo e a justiça social é uma tarefa bem mais difícil, e inglória, do que imaginavam. #thomas #review

  • Meu Pai encanta e assusta

    Meu Pai é um filme perturbador e uma interação inédita para muitas pessoas que vão ao cinema. Ao “quebrar a quarta parede”, uma experiência mais comum no teatro, o dramaturgo Florian Zeller, que estreia na direção cinematográfica, cria uma ruptura que poderia confundir, mas emociona e encanta, principalmente pela performance fodástica de Anthony Hopkins. A história é banal. porém desconfortável. Trata-se da questão do que fazer com um pai amado quando este começa a entrar no processo de demência. Ficar ao lado dele enquanto nossa vida se esvai ou interná-lo em um abrigo e terceirizar emoção e gratidão? Para piorar, a situação é vista sob o olhar do próprio idoso, o que não nos dá muita confiabilidade. Quando somos apresentados a Anthony (o personagem tem o mesmo nome do ator), deparamo-nos com um pai octogenário poderoso e refinado. Sua filha Anne (Olivia Colman) chega em seu apartamento, em Londres. Ela está preocupada porque o pai expulsou a sua cuidadora mais recente, acusando-a de ter roubado seu relógio. Anne diz que precisará contratar outra cuidadora, pois ela está se mudando para Paris, para buscar um novo relacionamento, o que deixa Anthony muito angustiado. Anne sai e, assim que a vê atravessando a rua, Anthony ouve um barulho, e descobre um homem estranho no apartamento (Mark Gatiss, que nunca saberemos quem realmente é). Depois de uma discussão, em que o homem insiste que Anthony é seu convidado, Anne volta, mas já não é mais a filha de meia-idade que conhecemos, mas outra mulher (Olivia Williams). Ela confirma ao pai que está divorciada e o homem desaparece. Se prestarmos atenção, veremos que não é mesmo o mesmo apartamento de Anthony. Mais truques do design de produção surgirão até o final do filme. Uma versão mais irada do marido de Anne, talvez o real (Rufus Sewell), impõe a Anthony sua maior humilhação. Mas há uma certa coerência no que ele diz: o sogro está doente, e permanecer na casa não fará bem a ninguém. No final, o pai de Anne está com uma pessoa que não sabe bem quem é. Ele reclama que está “perdendo suas folhas”. O relógio permanece no pulso.

  • Nomadland são os rejeitados da meritocracia hipócrita

    Nomadland , filme de Chloé Zhao baseado no livro de mesmo nome escrito pela jornalista norte-americana Jessica Bruder, se desenrola como se fosse um documentário, e levanta algumas questões intrigantes e atuais: existe vida depois do CEP cancelado? E a mais importante: é possível viver em um sistema capitalista sem ter propriedade? Fern, a protagonista da história, vivida com rara sensibilidade por Frances McDormand, contraria todas as expectativas e convenções. Tendo a sua vida “cancelada” após o fim da cidade de Empire, no estado de Nevada (que existia em função de uma mina de gesso que fechou), a viúva guarda seus pertences em um depósito, e decide sair pelo mundo, em sua van, a Vanguard. Fern personaliza a van com uma cama, uma pequena cozinha e um espaço de armazenamento com as lembranças de sua “outra vida”, como a coleção de pratos do seu pai. Rejeitando o rótulo de “sem teto”, mas se reconhecendo sem casa, Fern e Vanguard partem para a estrada. Logo, descobrem que não estão sós, e se juntam a uma gigantesca tribo que vagueia pelo país. Frutos de uma nova ordem capitalista decadente, são os rejeitados de uma meritocracia capenga: idosos ou quase, classe mais ou menos média e outros que, de seu, só têm seus carros. São desempregados, aposentados com salários ridículos, descasados e vítimas da bolha imobiliária. Vidas hipotecadas a um ideal cada dia mais distante. Trabalhando exaustivas jornadas em armazéns da Amazon em troca do dinheiro do estacionamento e uns trocados, Fern só observa e ouve as pessoas, a maioria delas contando casos reais de suas vidas. Aqui estão Linda May, a melhor amiga Fern; Swankie, a canoísta e observadora de pássaros em seus derradeiros momentos de vida; e o misto de profeta e mentor espiritual Bob Wells. Em alguma estrada, David Strathairn surge na pele de Dave, uma pessoa pacífica e amorosa, que tenta conquistar o afeto de Fern. Ela também gosta do colega de jornada, mas, de alguma forma, sabe que essa história de dormir no conforto de uma cama já é algo que não lhe diz respeito. No final, ela retorna a Empire, que não há mais.

  • Minari: criando raízes

    Minari é um filme belo como qualquer vida humana pode ser bela, mas, como normalmente ocorre com todo mundo, os sonhos nem sempre funcionam como deveriam. E esse conjunto de desventuras é contado pelo olhar atento do garoto David (Alan Kim), de seis anos de idade, uma espécie de alter ego do diretor Lee Isaac Chung. A história começa com a chegada de David e sua família à zonal rural de uma pequena cidade do Arkansas. Ele, sua irmã mais velha, Anne (Noel Kate Cho), e seus pais, Jacob (Steven Yeun) e Monica (Yeri Han), irão morar em uma casa móvel (com rodas) em uma propriedade agrícola com terras em pousio. Enquanto a expectativa de colher vegetais típicos da Coreia – para serem vendidos a outros imigrantes coreanos como eles – é o grande sonho de Jacob, a ideia irrita profundamente Monica que considera morar no meio do nada uma ameaça à saúde de David, que tem sopro no coração e não pode correr nem praticar atividades físicas. O casal trabalha pela manhã em uma granja local, como sexadores de frangos, e retorna à tarde para cuidar da casa e preparar as futuras plantações. Jacob contrata um ajudante chamado Paul (Will Patton), um pentecostal que passa o tempo todo orando e expulsando demônios da propriedade. Após diversas ocorrências em que a situação começa a ficar insustentável entre o casal, Jacob aceita trazer a mãe de Monica – Soonja ( Youn Yuh-jung ) – para morar com eles. A chegada dessa avó irá introduzir alguns elementos culturais, mas adicionará uma deliciosa desorganização à trama. Indo dormir no mesmo quarto, David e Soonja se estranham, ele porque ela não age como as outras avós e passa o dia xingando palavrões, assistindo luta livre na TV e “tem cheiro de Coreia”. A idosa diz que o neto não parece coreano (na verdade ele nasceu nos Estados Unidos) e que deveria, ao contrário do que faz, praticar atividades físicas. Os conflitos, dissabores e pequenas tragédias se sucedem e, de certa forma, nos acostumamos aos personagens, como se fizéssemos parte da família.

  • Ataque dos Cães é tão real quanto os papéis que representamos

    Sempre que vamos ao cinema, sabemos de antemão que veremos uma história na qual atores e atrizes interpretam situações que simulam a vida real. Em Ataque dos Cães , de Jane Campion, ocorre exatamente isso, porém, o desenvolvimento dos personagens é tão perfeito, que percebemos que eles estão interpretando papéis para não revelar suas realidades, exatamente como acontece no mundo real, quando não estamos no cinema. A história é ambientada em Montana, no norte dos EUA, em 1925, o que bastaria para não a classificar como um faroeste, embora a vocação rural da região forneça os elementos cenográficos característicos para os cowboys, aliados a paisagens belíssimas que às vezes remetem ao filme Rastros de Ódio de John Ford (de 1956), embora gravadas na Nova Zelândia. Os quatro personagens principais do filme vão sendo introduzidos aos poucos. Entre eles, certamente Phil Burbank (Benedict Cumberbatch) é o mais emblemático: um fazendeiro machista, ele se destaca por sua crueza, além de uma habilidade incomum com a faca, para castrar os bezerros de forma rápida e impiedosa. O irmão de Phil, George (Jesse Plemons), é o seu oposto: sempre limpo e bem vestido, é uma pessoa educada que, muitas vezes, tenta contornar as situações embaraçosas causadas pela crueza do irmão. Em uma delas, o “gordinho” vai consolar a viúva Rose Gordon (Kirsten Dunst), que está chorando depois que Phil tratou com extrema grosseria o seu filho “efeminado” Peter (Kodi Smit-McPhee), George acaba se casando com Rose, mas Phil não aceita a união, e a entrada da mulher na casa, mesmo com o envio de Peter para a universidade, acaba se tornando um foco de tensão entre esposa e cunhado que, estranhamente, só vai terminar quando Phil decide estabelecer uma inexplicável conexão com Peter. A reunião dos dois homens de personalidades (aparentemente) tão diferentes traz reminiscências sobre o antigo mentor de Phil, o cowboy Bronco Henry, morto há vinte anos, e do qual o vaqueiro guarda um guardanapo e uma sela. Mas a relação com Peter terá um desfecho inesperado.

  • A Pior Pessoa do Mundo é a mais doce

    A Pior Pessoa do Mundo é uma dramédia dirigida com brilhantismo e sensibilidade extrema pelo norueguês Joachim Trier. Na cena inicial, Julie (Renate Reinsve) fuma e dedilha seu celular em um momento antecipado do Capítulo 2 (são 12 capítulos mais um prólogo e um epílogo). Como acontece na maior parte do filme, a protagonista está deslocada. “Sinto-me como uma espectadora da minha própria vida”, diz. Depois de cursar – e se desinteressar em seguida – por Medicina, Psicologia e Fotografia, Julie se torna balconista de uma livraria. Chegando aos trinta anos, todas as expectativas da juventude se transformam de repente em imperativos implacáveis da vida adulta: ter um emprego fixo, filhos, relacionamento estável entre outros padrões do status quo. Nesse mar de incertezas (há alguma certeza absoluta?), ela conhece Aksel (Anders Danielsen Lie), um famoso cartunista criador de um personagem politicamente incorreto. Dez anos mais velho do que Julie, ele logo propõe que os dois não fiquem juntos porque as prioridades de vida de ambos estarão sempre em descompasso. Ela aceita ir embora, e ele se apaixona. Os dois ficam juntos. Aksel se mostra um parceiro suficientemente bom, compreensivo e divertido, mas há algo na relação que não funciona, não pelo que eles fazem, mas pelo que ambos são. Isso deixa Julie às vezes à margem do que acontece, e ela tem coragem o bastante de ser arrebatadoramente imprudente e abandonar a situação em busca de uma felicidade pessoal, da qual ela mesma duvida. Em um desses momentos em que Julie está “fora do contexto” (aquela cena inicial), ela caminha pelas ruas e, entrando em uma festa de casamento onde não conhece ninguém, encontra Eivind (Herbert Nordrum). Com o compromisso de não trair seus parceiros, eles extravasam a paixão do momento em um hilário ritual de intimidades “permitidas”. Os capítulos se sucedem como um conjunto às vezes caótico de inícios e términos, pequenas vitórias e tragédias inesperadas que, como qualquer vida humana, é pleno de desilusões pelos planos que, inevitavelmente, jamais são cumpridos.

  • Jojo Rabbit só quer ser um bom nazista

    Jojo Rabbit (Roman Griffin Davis) é um garoto de dez anos que vive na Alemanha nos anos finais da Segunda Guerra Mundial. Por isso, é compreensível e muito normal que o seu modelo a seguir seja um personagem considerado heroico pela nação alemã da época: Adolf Hitler (Taika Waititi), que é inclusive seu amigo imaginário. Lógico que criar uma visão caricata do Führer pode ser problemático dentro de um filme atual, mas o diretor Taika Waititi conduz a narrativa de forma a superpor cenas absurdas e engraçadas com momentos sérios e de extrema violência. Acostumados a uma visão consciente e esclarecida sobre as barbaridades do Terceiro Reich, tendemos a chamar de banalidade o tratamento dispensado ao patético Hitler quando, na verdade, é da aparente inocência do líder alemão que nasce sua força, tanto para crianças quanto para multidões infantilizadas que o idolatram como um bom companheiro. Assim, Johannes tenta se inserir na juventude nazista, mas sua natureza pura e inocente não se adapta naturalmente à cultura de destruição do inimigo que caracteriza a ideologia da cultura dominante na época. Entretanto, o bullying é atenuado pela ambiguidade do comandante do campo de treinamento, o capitão Klenzendorf (Sam Rockwell), às vezes implacável outras, sensível. Quando, após um acidente com uma granada, Jojo é obrigado a ficar em casa, ele faz uma descoberta que é a grande virada do filme: sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) esconde uma judia, a jovem Elsa ((Thomasin McKenzie), em um armário do quarto do sótão. A introdução da personagem cria sérias questões para o garoto, e gostar da moradora clandestina é a menor delas. De repente, o aspirante a nazista se torna íntimo na vida real de uma menina que ele pensa que é monstro e começa a se afastar de um monstro que ele pensa que é amigo. E, o que é pior, sem poder denunciá-la para não colocar sua mãe em risco. Naturalmente, a história segue o seu curso e tudo o que tem que acontecer acontece. Sem as contradições que o movem, o final do filme é um tanto melancólico.

  • Joias Brutas é um caos constante

    Joias Brutas é um filme asfixiante, com uma narrativa rápida, diálogos superpostos e abordagem sempre surpreendente. Não há como prever movimentos e os atores agem como se não houvesse um script, dificilmente se escutando uns aos outros, exatamente como fazemos em nosso mundo real. A maioria das cenas passa pela perspectiva de Howard Ratner (Adam Sandler). Logo somos apresentados a esse protagonista explosivo de dentro para fora: a cena inicial é uma colonoscopia. Ação contínua, Howard está nas ruas de Nova York a caminho de sua joalheria, esbarrando e interagindo com todo tipo de vigaristas, larápios e donos de lojas de penhores abusivas. A chegada em sua loja revela mais situações caóticas: entre os clientes, há dois bandidos contratados pelo seu cunhado Arno (Eric Bogosian), com o qual Howard tem uma dívida que jamais paga porque está sempre apostando o dinheiro que consegue ganhar. Dividindo sua vida entre a esposa (em fase de separação) Dinah (Idina Menzel) e sua amante Julia (Julia Fox), o empresário judeu parece estar constantemente no fundo do poço, e cavando. Sua última esperança é um último McGuffin: um pedaço de rocha incrustado por opalas multicoloridas que vemos no início do filme ter saído de uma mina na Etiópia. Levado pelo sócio comercial Demany (LaKeith Stanfield), o astro de basquetebol Kevin Garnett (o próprio) se encanta com a joia e pede para levá-la ao jogo dos Celtics como um amuleto; deixa em garantia o seu anel de campeão da NBA. Howard não tem dúvidas: penhora o anel e aposta tudo no jogo em que Garnett irá atuar. Quanto Howard espera receber o anel de volta, para levá-lo ao suposto leilão milionário, o atleta não devolve. Com isso, o joalheiro não consegue recuperar o anel, além de as represálias dos cobradores de Arno irem se tornando cada vez mais pessoais e violentas. O resultado é um humor característico dos irmãos Safdies, que dirigem o filme. Embora cativante, não é uma estética capaz de provocar riso, mas somente angústia. Se o final era mais ou menos esperado, nos parece pouco lapidado.

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